Nosso sistema alimentar está enfrentando o maior desafio da humanidade. As previsões populacionais indicam que, até 2050, seja necessário alimentar mais dois mil milhões de pessoas.
E, à medida que a população cresce, a disponibilidade de terras diminui sistematicamente à medida que as populações urbanas se expandem. Entre 1961 e 2016, a população mundial duplicou, enquanto o número de hectares per capita diminuiu simetricamente para metade, de 0,45 para 0,21. Além disso, o solo fértil não é um recurso ilimitado, uma vez que está ameaçado pelo fenômeno da degradação, abordado em profundidade neste artigo.
A agricultura intensiva vem acelerando os processos naturais de erosão: de acordo com uma investigação da FAO, degrada as terras 1.000 vezes mais rápido do que num cenário natural. Nesta base, a ONU afirma que 40% do solo da Terra se encontra atualmente em estado crítico.
Precisamos urgentemente de uma solução para aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, respeitar o equilíbrio dos solos e repor as terras degradadas. Esta solução pode ser a agricultura regenerativa.
O que é a agricultura regenerativa?
A agricultura regenerativa não é algo de novo, já era praticada pelas comunidades indígenas há séculos; inclui um vasto conjunto de práticas. É possível compreender melhor a agricultura regenerativa começando pelos seus princípios fundamentais:
- minimizar a perturbação do solo com o plantio direto;
- minimizar o uso de insumos químicos
- cobrir o solo com culturas durante o maior tempo possível;
- maximizar a biodiversidade animal e vegetal;
Reduzindo a perturbação do solo com a agricultura de plantio direto
A lavoura danifica a textura superior do solo, tornando-o menos capaz de absorver água e nutrientes e matando os microrganismos que o enriquecem. Uma solução é o plantio direto, uma abordagem que causa menos danos ao solo: em vez de cortar o solo, é feito um único todo e a semente é plantada no mesmo processo. A remoção da etapa de preparo do solo também pode resultar na economia de tempo e custos dos agricultores. A Scientific America publicou um relatório alegando que o plantio direto reduz os custos de combustível em 50 a 80% e a mão de obra em 30 a 50%.
Minimizar a uso de agentes químicos com a consórcio de culturas
Ao cultivar um campo com várias plantações ao mesmo tempo, uma prática chamada consórcio, é possível reduzir a quantidade de uso de fertilizantes. De fato, melhora a fertilidade do solo de maneira natural, pois plantas com diferentes folhagens e raízes entram em contato. Além disso, o aumento da limpeza das lavouras resulta em menor presença de fungos e ervas daninhas, enquanto os insetos têm mais dificuldade em se adaptar à presença de diferentes plantações, ao contrário de um campo monocultivo.
Um estudo da Universidade Holandesa de Wagenigen mostrou que as melhores combinações envolvem faixas plantadas com favas, cevada e trigo. Demonstrou como o consórcio pode ajudar a reduzir a quantidade de produtos químicos necessários e aumentar os rendimentos em 19-36%, em comparação com uma monocultura.
Cobertura do solo com plantas de cobertura
O cultivo de pousio com plantas de cobertura é uma técnica conhecida há séculos: o plantio de plantas de cobertura no período entre a colheita e o plantio de cultivos comerciais. A umidade residual do solo é suficiente para garantir o crescimento das plantas: isso protegerá o solo superficial da erosão, fornecerá uma fonte adicional de matéria orgânica e reciclar nutrientes valiosos, como potássio, fósforo e nitrogênio. O planejamento dessa atividade não impacta a produção comercial da terra e deixa um estoque de nitrogênio no solo, que aumentará a produtividade assim que for alocado para cultivos comerciais.
Aumentar a biodiversidade animal e vegetal: agrossilvicultura
Uma prática regenerativa que visa aumentar a biodiversidade em benefício de todo o ecossistema agrícola é a agrofloresta, “agricultura com árvores”. Plantar árvores junto com as lavouras tem muitas vantagens, oferecendo um novo habitat para espécies de animais, as árvores ajudam a prevenir a erosão do solo e aumentar a capacidade de sequestro de carbono do solo. Eles também fornecem aos agricultores forragem para animais ou novas variedades de produtos, como frutas e nozes. Este ambiente agrícola é também ideal para a criação de animais, uma vez que estes podem pastar debaixo das árvores num ambiente natural.
Após essas considerações, os benefícios das práticas acima são claros: a introdução de práticas regenerativas na agricultura convencional pode gerar retornos importantes para os agricultores e para todo o ecossistema natural.
Solos saudáveis podem aumentar a produtividade das culturas, o sequestro de carbono e a resiliência diante de um clima mais quente. A diversificação de cultivos protege as plantas de doenças e erosão do solo, contribuindo para um ecossistema mais saudável e reduzindo os custos com a compra de defensivos.
Aplicando uma abordagem mais holística à agricultura por meio de técnicas que buscam a saúde do solo e levam em consideração as necessidades do ambiente circundante, há uma chance, por meio de "velhas práticas" de injetar "nova vida" em nossos solos, à medida que enfrentamos os desafios de alimentar nossa crescente população global com recursos cada vez menores.